Monday, February 20, 2006

 

LITERATURA INGLESA P/ QUINTO ANO DE LETRAS - "JOHN KEATS"

Keats: fragmentos de uma vida
John Keats nasceu em Londres no dia 31 de Outubro do ano de 1795, sendo o filho mais velho de Thomas Keats e de Frances Keats, tendo como irmãos George (1797-1841), Thomas (1799-1818), Edward (1801-1802) e Frances Mary (11803-1889), mais conhecida por Fanny, e por quem o poeta desenvolve uma grande afectividade nos últimos anos da sua vida.

Com o seu irmão George e mais tarde o seu irmão Tom, frequenta a John Clarke’s School em Enfield, situada a uma dezena de milhas a norte de Londres. Este período compreende o anos de 1803 a 1811.

Durante este espaço de tempo muito acontece na vida de Keats. O seu pai morre em Abril de 1804, vitimado por um acidente de cavalo, e sua mãe volta a casar em Junho desse mesmo ano. Em consequência, ele e os seus três irmãos, vão viver para junto dos avós maternos, em Ponders End, Enfield. Em 1805 o seu avô morre em Março. John Keats, sempre acompanhado pelos seus irmãos, vai viver para Edmonton, novamente acompanhado pela sua avó materna.

No ano de 1810 é a vez de sua mãe morrer, vitimada pela tuberculose, doença que parece ser de família, pois também um dos seus irmãos morre da mesma doença, e também é esta a doença que vai ceifar a vida do jovem poeta.

Entre 1811 e 1815 é aprendiz de Thomas Hammond, que é um boticário-cirurgião em Edmont, e em 1814 escreve os seus primeiros poemas, que começam com Imitation of Spenser. Morre a sua avó em Dezembro, e em 1815 entra no Guy’s Hospital de Londres, onde pretender continuar com os seus estudos médicos.

Em 1816 é publicado o seu primeiro poema, o soneto O Solitude, no jornal Examiner. Passa no seu exame de boticário em Junho e visita o seu irmão Tom em Agosto. Entre Agosto e o fim desse ano há uma grande actividade poética, conhecendo ainda: Joseph Severn, Leigh Hunt, Benjamin Robert Haydon e Joseph Hamilton Reynolds.

O seu primeiro livro, intitulado Poems, é publicado no inicio do ano de 1817. No entanto, o poeta passa a maior parte do ano a escrever o seu romance poético Edymion, que vai desde o mês de Abril até Novembro. Ainda nesse ano visita a ilha de Wight and Margate, as cidades de Canterbury, Hasting e Oxford, conhecendo durante o processo Benjamin Bailey, como também, Charles Wentworth Dilke, Charles Brown, e no final do ano Wordsworth.

Entre Fevereiro e Abril do ano de 1818 escreve o poema Isabella, juntando-se ao seu irmão Tom em Teignmouth. Começa a escrever Hyperion, talvez em Outubro, vindo o seu irmão Tom a falecer em Dezembro, vitimado pela tuberculose. É ainda nesse ano que conhece a sua grande paixão, Fanny Brawne.

No ano de 1819 escreve os poemas que o colocam entre os poetas de língua inglesa, sendo eles: The Eve of St. Agnes, La Belle Damme sans Merci, as odes Psyche, Nightingale, Grecian Urn e Melancholy, escrevendo ainda, Lamia, The Fall of Hyperion e To Autumn.

Em Fevereiro de 1820 sofre uma grave hemorragia nos pulmões, que será o principio de uma doença herdada e que agora se estabelece. Segue para Itália com Joseph Severn, chegando a Roma em Novembro, onde espera encontrar melhores ambientes para a doença que o consumia.
A 23 de Fevereiro de 1821 morre. É enterrado três dias depois num cemitério protestante em Roma.
Keats e a sua poesia

O primeiro e mais óbvio facto que existe sobre Keats é a sua extrema juventude. A morte prematura de Keats, sempre foi alvo de muito estudo, pois em comparação a outros autores de Língua Inglesa, a sua vida foi demasiado curta e a sua produção poética demasiado “produtiva”; vida essa oposta à de Chaucer e Shakespeare, que viveram até aos seus cinquenta anos; à de Milton, que chegou aos sessenta e cinco; Yeats e Wordsworth morreram ambos aos setenta e três anos de idade. Por contraste, Keats, entre os seus vinte e um e vinte e quatro anos, publicou três volumes de poesia: Poems, Endymion e Lamia, Isabella, The Eve of St. Agnes e Other Poems, estes últimos contendo as cinco grandes odes e ainda Hyperion.

No entanto, apesar de toda a sua jovem produção poética, Keats começou tarde como poeta, havendo, em seguida, um progresso relativamente lento. Keats escreveu o seu primeiro poema aos dezoito anos, e produziu outras peças ocasionais nos próximos dois anos. Mas, só prosseguiu a sua carreira como verdadeiro poeta após ter completado o seu curso de aprendiz de boticário e cirurgião.

Todo o trabalho de Keats exibe uma grande variedade, tanto em quantidade como em qualidade. Existem mais de cento e cinquenta títulos[1], no entanto, devemos contar com o longo romance poético Endymion, que muitos dos críticos de Keats consideram ser um dos seus primeiros trabalhos, e que o próprio Keats, no prefácio ao referido poema, o caracteriza como sendo um produto da «great inexperience, immaturity, and every error denonting a feverish attempt, rather than a deed accomplished.»[2]. Este poema fala de uma personagem, que dá o nome ao próprio poema, que se apaixona por uma deusa desconhecida que o visita num dos seus sonhos. Apaixonado, a nossa personagem, rejeita o mundo real, preferindo divagar por entre cavernas, oceanos, e até pelo ar, procurando unir-se à sua amada deusa.

Existe também um ponto que deve ser focado, e que é aquele da personalidade de Keats. De um senso comum prático, Keats desenvolveu uma sabedoria e uma perspicácia extraordinárias. Como refere Jack Stinllinger, na obra já citada, é difícil colocar tudo isto numa palavra só, no entanto, todos aqueles que estudaram Keats se aperceberam da sua presença e do seu significado. É uma qualidade que prevalece nos incidentes da vida diária, como também nas suas cartas, e, obviamente, numa fonte de atracção para todos aqueles que o rodeavam. Mas Keats, para além de ser poeta, era também homem, e é neste ponto que Keats é melhor caracterizado, agora por John Jones[3], como sendo «...the dreaming man and the realist».

É também entre a realidade e o sonho que Keats e a sua poesia navegam. O sonho é, sem dúvida, a principal característica da poesia keatsiana. Várias são as formas de “sonho”, tanto como nome e verbo, como também as suas “visões” mencionadas em forma de nome e em forma de verbo. Exemplo deste tema, e como já foi referido anteriormente, é o poema Endymion. Mas, não é só neste poema que estes temas são referidos, eles também surgem em poemas como Lamia, Isabella e La Belle Dame sans Merci.
É neste jogo, nesta troca, entre a realidade e o sonho, entre o mundo ideal e o mundo real, entre o mundo inteligível e o mundo das sombras, havendo talvez um pouco da filosofia platónica, que a poesia de Keats evolui.
A poesia visionária de Keats também faz um extensivo uso de matérias mitológicas gregas. Apesar disso, a mitologia não convence em Endymion, onde uma visão onírica imatura, como jáfoi referido, acompanha o vaguear do poeta através de um reino vago mas sensualmente clássico, onde o ideal pode ser alcançado através da busca abnegada.

Apesar das críticas e da sua saúde em completo declínio, a sensibilidade de Keats passou por um espantoso processo de auto-educação, que lhe possibilitou a composição de odes mais amadurecidas, antes da sua morte por tuberculose. Ode to Psyche[4] apresenta uma linha de desenvolvimento, a interiorização do mito sendo o poeta o sacerdote da psique. Em Ode on a Grecian Urn relaciona o mundo da imaginação com a realidade mutável, por meios muito mais implícitos: a própria urna simboliza a arte; mas a sua imagem de uma procissão que esvazia a cidadela para assistir ao sacrifício tem uma profundidade menos fácil de medir. Tem a ver com a condução das coisas puramente naturais a uma conclusão sagrada, podendo ser dito que a urna consagra a Natureza.

Imagens como as de Ode on a Grecian Urn resultam da longa meditação de Keats sobre a arte visual, não apenas em obras simples, mas também no paganismo antigo, como é evocado em fontes tão diversas como as pinturas de Cláudio e os mármores de Elgin. Este método de indução do tom acentua a qualidade estática e emocionante das imagens, que, fortemente tácteis, dão-nos a impressão de momentos ou atitudes imobilizados. Keats tinha que captar, fixar, preservar o instante numa perfeição incólume, como se o movimento ou a sequência perdessem a mutabilidade. O seu mitiscismo dos momentos imóveis iria adquirir autoridade junto de um outro poeta, Tennyson. E, de maneira geral, as suas qualidades pictóricas agradaram fortemente quase todos os victorianos.

Segundo Jorge de Sena[5], fazendo referência à poesia de Keats, «...a beleza é essa a unidade da comtemplação e da realização, que leva em si o melhor de nós, aquilo que, connosco e a toda a hora, não poderíamos ser. É essa a única verdade, e não precisamos, para viver, de saber mais nada. O mal e a morte são a recusa a ou o termo desse convívio que, através dos sentidos e da apreensão intelectual, nos é dado ter com os seres que são o nosso mundo.»; numa passagem mais adiante o autor continua, «..., tudo isto, quer nas meditações líricas que são as grandes odes, quer nas «histórias» medievalizantes, quer nos versos de Endymion ou de Hyperion, quer na estrutura sintética dos sonetos, é condensado numa expressão pletórica de imagens e de evocações, extremamente visual, em que a solidez da metrificação e a eloquência dignified do tom palpitam de uma melancolia que nunca desce de ser expressão do abismo entre a idealidade do poeta [...] e a vida comum.»

As odes de Keats, que se encontram entre os melhores poemas curtos do século, mostram a sua grandeza numa completa assimilação da linguagem e do pensamento. Tudo nelas é proporcionado, integrado, transformado; até a mínima sugestão tem um significado.

Controversa é a epopeia incompleta, em verso branco, intitulada Hyperion. Este poema afirma-se, por vezes, que trai o efeito estultificador do seu modelo miltoniano, uma influência a que Keats tentou resistir numa nova tentativa, agora com o nome The Fall of Hyperion. Mas, se o poema não resulta, os motivos são mais profundos. Os deuses gregos sublimamente simples de Keats aspiram a uma impossibilidade: uma visão totalmente experimentada que evoque a forma, mas apague o poeta.

A melhor visão que Keats consegui realizar foi aquela que diz respeito ao poema gótico intitulado The Eve of St. Agnes, um poema narrativo, em estrofes spenserianas. Keats envolve brilhantemente a sua visão em detalhes vivamente sensuais embora comedidos, focados em momentos psicológicos, mas também dilatados para explorar o espírito. Tudo se baseia na oposição do romance gótico entre o amor e o ódio familiares, como também entre o calor erótico e o frio da moralidade ascética ou insensível, mas a intensidade de Keats é nova, assim como a subtileza da textura.

A organização da narrativa é igualmente impressionante, como quando se usam as imagens de cercadura para aumentar a sensação de santuário perigosamente desprotegido. Afirma-se que esse amadurecimento de Keats reteve «uma parte da sua inicial «vulgaridade»; mas este poema pelo menos é uma obra-prima de tacto.».[6]

A sua capacidade para a negatividade, permitiu-lhe elaborar um dos melhores poemas sobre a rendição sexual da literatura inglesa, pois se a Humanidade for realmente divina, parece mesmo que um tema menor ou ambíguo pode adquirir um novo significado.
As Imagens Românticas

Com o Romantismo surgiu uma nova tendência dentro da literatura. Essa no tendência possuía as suas próprias características, tendo como uma das fundamentais a Imagem.

Os autores românticos deram um novo ênfase à imagem, pois elas sempre constituíram elementos da literatura: sempre se recorreu à representação de ideias ou sentimentos através de coisas, como um dispositivo auxiliar. Mas com o romantismo tornavam-se na articulação principal. Isto nota-se muito na poesia naturista romântica, em contraste com o Iluminismo, em que as emoções encontram uma expressão directa distinta e as imagens têm uma função muito subsidiária.

A imaginação estava agora, com o romantismo, livre para se combinar com os aspectos naturais. O seu modo de actuar sobre os fenómenos da Natureza, as suas consequências, davam agora estrutura a poemas inteiros. Já não é uma questão de indicar e depois ilustrar analogias naturais, mas sim descobrir essas mesmas analogias através de um processo imaginativo, sendo a estrutura orgânica o objectivo e o critério.

Muitas vezes a imaginação demorava-se na paisagem, perseguindo fugitivos significados latentes, onde meditações do poeta ocupavam grande parte das imagens inerentes ao poema. Nessas meditações os significados deviam surgir espontaneamente, por isso têm que surgir na forma de metáforas naturais, significando isto que: os veículos e os teores das metáforas devem parecer naturalmente semelhantes. Não existe o lugar para comparações inteligentemente disjuntivas, à maneira dos poetas metafísicos, pois entre os românticos as personificações da poesia inicial descem à própria natureza. A mesma paisagem não só proporciona os mesmos temas como também a meditação com as imagens do discurso.

O poema de Keats intitulado To Autumn, a última das suas odes mais importantes, é um bom exemplo da interacção da imaginação com a Natureza. A personificação não é principalmente tradicional, embora Keats tenha estudado representações visuais do Outono no espelho da arte. Mas, em vez de generalizar a personificação, existe uma meditação sobre poses e detalhes imobilizados, detalhes esses em que a Natureza parece investida de misterioso significado, sendo a imaginação uma mistura entre o natural e o humano. Ao criar estas imagens, Keats descobre não só a relutância em deslocar-se até à colheita completa da morte, mas também na própria postura da estação em relação ao tempo.

Este método de meditação em sintonia com a Natureza foi continuado pelos românticos posteriores, mas não sem críticas. A poesia de Keats, por exemplo, deu origem a uma crítica de Ruskin[7]. Este autor referiu que existia uma «falácia patética» no retrato da Natureza. Ruskin entendia que um sentimento tão forte poderia genuinamente atribuir qualidades humanas à Natureza.

As imagens tornam-se estrategicamente centrais, o que não acontecia no século XVII. Agora as imagens não têm que se confinar à apertada malha da lógica, pois libertadas para acompanhar a imaginação, seriam apenas muito ligeiramente peadas pelo julgamento poético ou pela vigilância da introspecção. Os poemas começaram a seguir mais a vertente e a sequência da fantasia, do que a sequência do argumento, e se a isto se juntar a deliberada irracionalidade dos românticos, não será de surpreender que as imagens nem sempre parecem coerentes, pois elas, além disso, são geralmente difíceis, em especial quando se referem aos espaços obscuros da psique.

Quando o poeta romântico pretendia expressar emoções, não convencionais, recorria muito à fantasia obscura, que assim constituía um recurso comum. No entanto, as imagens românticas obedecem a uma lógica poética, que pode, até certo ponto, ser entendida como uma ideologia anti-iluminista.

As imagens românticas são desenvolvidas de forma elaborada, que adquirem, em alguns casos, um grande significado, que é o significado abstracto dos símbolos. Provavelmente todos os símbolos principais estão relacionados, de forma relativa e directa, como sucede na femme fatale do poema de Keats La Belle Damme sans Merci, no entanto, esta característica era pouco conhecida na altura. Efectivamente, uma das características do simbolismo romântico irracional consistia em poder ser “inocente” através da separação da consciência, pois grande parte da sua importância residia na possibilidade de metamorfose que provinha de novas afirmações dos autores individuais. Keats foi o primeiro a criar um reino de arte, embora um reino de arte totalmente consciente.

Outras imagens românticas derivam da natureza sublime, onde imagens de luz e obscuridade expandiam a mente, enquanto se abria sobre ela um abismo sem fundo. tal acontecia também com as imagens de horrores fatais, que podem implicar muito mais que o famoso “desejo de morte”. Os românticos transplantaram a «medonha vegetação do jardim de Prosperpina de Spenser, e os vapores venenosos pairam sobre os jardins de The Sensitive Plant de Shelley»[8].

Os românticos gostavam de chamar sonhos aos seus poemas, e, de facto, podem encontrar-se semelhanças com os sonhos em toda a sua obra, pois como já vimos, utilizaram imagens como meios primários de expressão. Um bom exemplo disso é o já referido poema de Keats Endymion.

Muitos dos românticos ainda acrescentariam que os poemas em semelhança aos sonhos eram pluralistas, ou ambíguos para o intérprete. Não há dúvida de que os poemas românticos, de uma maneira geral, suficientemente multifacetados para provocarem opiniões e interpretações diferentes. Mas as ambiguidades literárias são diferentes das dos sonhos, pois estão sujeitas a uma maior escolha.

Apesar de todas as imagens, a mais significativa para a literatura subsequente é a do próprio poeta. Os poetas idealizados figuram proeminentemente na poesia romântica e chegam a ter certas semelhanças, pois constituem um novo tipo simbólico. O poeta romântico é um intruso alienado, mas apesar da sua solidão, é um ser expressivo e cultiva abertamente a sua auto-absorvida sensibilidade, deleitando-se positivamente com ela. No entanto, a exploração da sensibilidade pelos românticos podia por vezes ser prematura, insensata e algumas vezes mórbida.

É discutível que tenham espalhado sementes de decadência, e a sua associação de erotismo com a morte e com o horror também tem um valor muito dúbio, mesmo que a sua combinação de prazer e de sofrimento tenham parecido menos natural. Com o alargamento do domínio poético por parte dos românticos, o poder expressivo aumentou grandemente. Paradoxalmente, a capacidade artística dos românticos parece mais discutível.

Por outro lado há quem afirme que a poesia de Keats ficou um pouco à margem do Romantismo inglês, relacionando-se mais com os movimentos poéticos do século XX[9]. A sua poesia subjectivista e individualista, não recusa a realidade circundante, embora a contemple como símbolo de uma “irrealidade” transcendente que lembra bastante a do posterior movimento simbolista.

As suas obras tendem para a procura de uma dicção poética aperfeiçoada até à pureza, e envolvida por um certo mistério simbólico que contribuiu para a transfiguração de Keats como poeta inadaptado e incompreendido pela sociedade da sua época. Essa sua tentativa para a perfeição e pureza leva-nos de novo ao poema Endymion, onde existe o modelo romântico da procura da beleza através da alma. A alegoria conforma o sentido de todo o poema e tanto o exotismo, como inclusivamente o barroquismo onírico de que Keats faz gala, não nascem senão da necessidade de expressar uma “realidade-outra” que o poeta ainda não soube seleccionar poeticamente.

Sentimentalmente sobrecarregado até à afectação, este poema lança o jovem poeta na procura de uma forma de expressão que se perde no narrativismo, mas cujo sentido último vai dar forma ao característico lirismo keatsiano. De qualquer forma, embora Keats tenha feito do tema erótico um reflexo da vida humana como aspiração ao conhecimento, este poema reserva-se o direito de pertencer já a uma “meta-literatura” quase do século XX e de perfil quase “maldito”.

Keats foi, e apesar da resistência da crítica contemporânea à sua obra, o mais lúcido e também o mais moderno dos poetas românticos ingleses. A sua poesia, por vezes intensa e conceptual, possui a carga lírica suficiente para fazer desconfiar da sua pretensa asepsia poética, chegando a uma pureza que só anos mais tarde foi entendida, pois o Keats-poeta não tem junto a si o Keats-homem, antes o esconde, como a sua produção esconde toda a beleza da realidade circundante.

Por isso, Keats é o menos dos românticos dos poetas ingleses, o menos anedótico, e a sua poesia é a menos vitalista, visto que se despe do acessório formal e temático. Na obra de Keats está mais que uma ideia do mundo, ou até o mundo em si, no entanto, quando esse mundo surge, ele é dado como um mundo ultrapassado, idealizado, liberto de todas as suas circunstâncias. Um mundo, que sem dúvida, é experimentado como plenamente belo, ao qual parece confiar, mais que a sua própria voz, a expressão de si mesmo. Inimigo do empirismo, do racionalismo, do subjectivismo e de qualquer outro tipo de moralismo, estabelece assim as bases de uma poesia radicalmente inconformista e criadora de si mesma, e nunca recriadora de uma realidade ilusória.
Manuel A. Domingos
 

Sobre o trabalho de 'Huckleberry Finn'

Gente do quinto termo de letras- este trabalho sobre o romance - The adventures of Huckleberry FinnProcure traduzí-lo sem usar os tradutores eletronicos senão seu trabalho vai ficar 'ridículo' e sua NOTA mais ridícula ainda...
Use seu dicionário, e se acaso você ainda não possui um, o que acho uma grande vergonha um aluno que faz Letras não ter um dicionário, empreste um de alguém ou compre um, ok
Na última aula do mês de Março estarei recolhendo o trabalho que também será usado para a prova de Lit. Americana do primeiro semestre de 2006...
Favor também imprimir o texto sobre 'Henry James' pois esta será nossa nova apostila... quem não tiver condições de imprimir fique frio, pois eu sempre terei comigo já uma impressão e vocês poderão mandar fazer fotocópias, ok (não use o termo 'xerox' pois este nome é uma marca não um verbo...
gil

Saturday, February 18, 2006

 

TRABALHO PARA MARÇO - LIT. AMERICANA...

The Adventures of Huckleberry Finn is often considered to be Twain's masterpiece. It combined his raw humor with startlingly mature material to create a novel that directly attacked many of the traditions the South held dear. Huckleberry Finn is the main character, and it is through his eyes that the South is revealed and judged. His companion, a runaway slave named Jim, provides Huck with friendship and protection during their journey along the Mississippi.
The novel begins with Huck himself writing the story. He briefly describes what has happened to him since The Adventures of Tom Sawyer. After Huck and Tom discovered twelve thousand dollars in treasure, Judge Thatcher invested the money for them. Huck was adopted by the Widow Douglas and Miss Watson, both of whom took pains to raise him properly.
Dissatisfied with his new life, Huck runs away. Tom Sawyer manages to bring Huck back by promising to start a band of robbers. All the young boys in town join Tom's band, and they use a hidden cave as their hideout. However, many of them soon become bored with the make-believe battles and so the band falls apart.
Soon thereafter Huck sees footprints in the snow which he recognizes as his Pa's. Huck realizes that Pa has returned to claim his money, and so he quickly runs to Judge Thatcher and "sells" his share of the money for a "consideration" of a dollar. Pa catches Huck and makes him hand over the dollar, and threatens to beat Huck if he ever goes to school again.
Judge Thatcher and the Widow try to gain court custody of Huck, but a new judge in town refuses to separate Huck from Pa. Soon thereafter, Pa steals Huck away from the Widow's house and takes him to a log cabin. Huck says that he enjoys the life at first, but he soon decides to escape after Pa starts to frequently beat him.
Soon thereafter Pa returns to the town and Huck seizes the chance to escape. He saws his way out of the log cabin, kills a pig and spreads the blood as if it were his own, and then takes a canoe and floats downstream to Jackson's Island. Once there he sets up camp and hides out.
A few days later Huck stumbles onto a still smoldering campfire on the island. He is frightened but decides to discover who the other person is. The next day he discovers that the person is Miss Watson's slave Jim, who has run away after overhearing the Widow plan to sell him to a slave trader. Jim is frightened at first, believing Huck to be dead, but soon is happy to have a companion.
The river starts rising, and at one point an entire house floats past the island. Huck and Jim climb aboard to see what they can salvage. They find a dead man lying in the corner of the house, and Jim goes over to look. Jim realizes that the dead man is Pa, and he carefully refuses to tell Huck who it is.
Huck returns to the town dressed as a girl in order to gather some news. While talking with a woman, he learns that both Jim and Pa are suspects in his murder. The woman then tells Huck that she thinks Jim is hiding out on Jackson's Island. When Huck hears that, he immediately returns to Jim and together they leave the island.
Using a large raft, they float downstream during the nights and hide during the days. During a strong thunderstorm they see a steamboat which has crashed. Huck convinces Jim to land on the boat, and together they climb aboard. However, they soon discover that there are three thieves on the wreck, two of whom are debating whether to kill the third man. When Huck overhears the conversation, he and Jim try to escape, only to find that their raft has come undone. They manage to find the skiff that the robbers had used and immediately take off. Soon they see the wrecked steamship floating downstream, far enough below the water-line to have drowned everyone on board. They subsequently catch up with their original raft and recapture it.
Jim and Huck continue floating downstream, becoming close friends in the process. Their goal is to reach Cairo, where they can take a steamship up the Ohio and into the free states. However, during a dense fog they become separated, with Huck in the canoe and Jim in the raft. When they find each other in the morning, it soon becomes obvious that they passed Cairo in the fog.
A fews nights after passing Cairo, a steamboat runs over the raft and forces Huck and Jim to jump overboard. Huck swims to shore where his is immediately surrounded by dogs. He ends up being invited to live with a family called the Grangerfords. Huck is treated well and soon discovers that Jim is hiding in a nearby swamp. Everything is peaceful until an old feud between the Grangerfords and the Shepherdsons is rekindled. Within a day all of the males in the family are killed, including Huck's best friend Buck. Huck uses the chaos to run back to Jim, and together they start downstream again.
Soon thereafter two humbugs named the Duke and the King are rescued by Huck. They immediately take over the raft and start to travel downstream, making money by cheating people in the various towns along the river.
The two men come up with a scam called the Royal Nonesuch which earns them over four hundred dollars. The scam involves getting all the men in the town to come to the show, and then having the King parade around naked for a few minutes. The men are too ashamed to admit to having wasted their money, so they tell everyone else how great the show was. Thus the next night is also a success. On the third night everyone returns plotting revenge, but the Duke and King manage to escape with all the money.
Further downriver the two con men learn about a large inheritance. They pretend to be British uncles of three recently orphaned girls in order to receive the money. The girls are so happy to see their "uncles" that they do not realize they are being cheated. Huck is treated so nicely by all three of the girls that he vows he will never let the humbugs steal their money.
Huck sneaks into the King's room and steals the large bag of gold that came with the inheritance. He hides the money in the coffin of Peter Wilk's, the recently deceased "brother" of the con men. Meanwhile the humbugs spend their time liquidating the girls' property.
Huck encounters Mary Jane Wilks, the eldest of the girls, and sees her crying. He decides to tell her the entire story about the two cons. She is infuriated by the story but agrees to leave the house for a few days so that Huck can escape.
Right after Mary Jane leave, the real two uncles of the girls arrive in the town. However, because they lost their baggage they are unable to prove their identity. Thus the town lawyer takes all four men aside and tries to establish who is lying. The King and the Duke fake their roles so well that there is no way to determine who is telling the truth. Finally one of the real uncles says that his brother Peter had a tattoo on his chest and challenges the King to identify it. In order to figure out who is telling the truth, the townspeople decide to exhume the body.
When they dig up the grave, the townspeople discover the missing money that Huck hid there. In the ensuing chaos, Huck runs straight back to the raft and he and Jim push off into the river. However, the Duke and King soon catch up with them and rejoin the raft.
Farther down the river the King and Duke sell Jim into slavery by claiming he is a runaway slave from New Orleans. Huck decides to rescue Jim, and daringly walks up to the house where Jim is being kept. Luckily, the house is owned by none other than Tom Sawyer's Aunt Sally. Huck immediately pretends to be Tom.
When Tom arrives, he pretends to be his younger brother Sid Sawyer. Together he and Huck contrive how to help Jim escape from his "prison," namely an outdoor shed. Tom manages to make Jim's life difficult by putting snakes and spiders into the room with him.
After a lot of planning, the boys convince the town that a group of thieves is planning to steal Jim. That night they get Jim and start to run away. The local farmers follow them, shooting as they run after them. Huck, Jim, and Tom manage to escape, but unfortunately Tom gets shot in the leg. Huck returns to the town to get a doctor, whom he sends over to where Tom is hiding with Jim.
The doctor returns with Tom on a stretcher and Jim in chains. Jim is treated badly until the doctor describes how Jim helped him take care of the boy. When Tom awakens, he demands that they let Jim go free.
At this point Aunt Polly appears, having traveled all the way down the river. She realized there was something wrong when her sister wrote her that both Tom and Sid had arrived. Aunt Polly tells them that Jim is indeed a free man, because the Widow passed away and freed him in her will. Huck and Tom give Jim forty dollars for being such a good prisoner and letting them free him.
Jim then tells Huck to stop worrying about his Pa. He reveals to Huck that the dead man on the floating house was in fact Huck's Pa. Aunt Sally offers to adopt Huck, but he refuses on the grounds that he had tried that sort of lifestyle once before. Huck then concludes the novel by stating that he would never have undertaken the book had he known it would take so long to write it.
 

Aviso para o pessoal do quinto termo de Letras

Oi Gente vai ai a segunda parte da nossa literatura Americana...É sobre Henry James...tudo em inglês...para que vocês aprendam a utilizar o dicionário e fazer com que o pessoal que ainda não tenha dicionário, compre um!!!!!!!!!! "shame on you"
favor imprimir para que a gente começe a trabalhar logo nele.
Good luck
gil
 

Henry James -

Henry James (1843-1916), American-born writer, gifted with talents in literature, psychology, and philosophy. James wrote 20 novels, 112 stories, 12 plays and a number of works of literary criticism.

Henry James was born on April 15, 1843 in New York City into a wealthy family. His father, Henry James Sr. was one of the best-known intellectuals in mid-nineteenth-century America. In his youth James traveled back and forth between Europe and America. He studied with tutors in Geneva, London, Paris, Bologna and Bonn. At the age of 19 he briefly attended Harvard Law School, but preferred reading literature to studying law. James published his first short story, "A Tragedy of Errors" two years later, and devoted himself to literature. In 1866-69 and 1871-72 he was a contributor to the Nation and Atlantic Monthly.

From an early age James had read the classics of English, American, French and German literature and Russian classics in translation. His first novel, Watch and Ward (1871), was written while he was traveling through Venice and Paris. After living in Paris, where he was contributor to the New York Tribune, James moved to England, living first in London and then in Rye, Sussex. During his first years in Europe James wrote novels that portrayed Americans living abroad. In 1905 James visited America for the first time in twenty-five years, and wrote "Jolly Corner".

Among James' masterpieces are Daisy Miller (1879), where the young and innocent American, Daisy finds her values in conflict with European sophistication and The Portrait Of A Lady (1881) where again a young American woman becomes a victim of her provincialism during her travels in Europe. The Bostonians (1886) was set in the era of the rising feminist movement. What Maisie Knew (1897) depicted a preadolescent young girl, who must choose between her parents and a motherly old governess. In The Wings of the Dove (1902) a heritage destroys the love of a young couple. James considered The Ambassadors (1903) his most 'perfect' work of art. James's most famous short story must be "The Turn of the Screw", a ghost story in which the question of childhood corruption obsesses a governess. Although James is best known for his novels, his essays are now attracting a more general audience.

Between 1906 and 1910 James revised many of his tales and novels for the New York edition of his complete works. His autobiography, A Small Boy and Others, appeared in 1913 and was continued in Notes of a Son and Brother (1914). The third volume, The Middle Years, appeared posthumously in 1917. The outbreak of World War I was a shock for James and in 1915 he became a British citizen as a declaration of loyalty to his adopted country and in protest against the US's refusal to enter the war. James suffered a stroke on December 2, 1915. He died three months later in Rye on February 28, 1916.

THE WINGS OF THE DOVE is a classic example of Henry James's morality tales that play off the naiveté of an American protagonist abroad. In early-20th-century London, Kate Croy and Merton Densher are engaged in a passionate, clandestine love affair. Croy is desperately in love with Densher, who has all the qualities of a potentially excellent husband: he's handsome, witty, and idealistic--the one thing he lacks is money, which ultimately renders him unsuitable as a mate. By chance, Croy befriends a young American heiress, Milly Theale. When Croy discovers that Theale suffers from a mysterious and fatal malady, she hatches a plan that can give all three characters something that they want--at a price. Croy and Densher plan to accompany the young woman to Venice where Densher, according to Croy's design, will seduce the ailing heiress. The two hope that Theale will find love and happiness in her last days and--when she dies--will leave her fortune to Densher, so that he and Croy can live happily ever after. The scheme that at first develops as planned begins to founder when Theale discovers the pair's true motives shortly before her death. Densher struggles with unanticipated feelings of love for his new paramour, and his guilt may obstruct his ability to avail himself of Theale's gift. James deftly navigates the complexities and irony of such moral treachery in this stirring novel. THE AMBASSADORS, which Henry James considered his best work, is the most exquisite refinement of his favorite theme: the collision of American innocence with European experience. This time, James recounts the continental journey of Louis Lambert Strether--a fiftysomething man of the world who has been dispatched abroad by a rich widow, Mrs. Newsome. His mission: to save her son Chadwick from the clutches of a wicked (i.e., European) woman, and to convince the prodigal to return to Woollett, Massachusetts. Instead, this all-American envoy finds Europe growing on him. Strether also becomes involved in a very Jamesian "relation" with the fascinating Miss Maria Gostrey, a fellow American and informal Sacajawea to her compatriots. Clearly Paris has "improved" Chad beyond recognition, and convincing him to return to the U.S. is going to be a very, very hard sell. Suspense, of course, is hardly James's stock-in-trade. But there is no more meticulous mapper of tone and atmosphere, nuance and implication. His hyper-refined characters are at their best in dialogue, particularly when they're exchanging morsels of gossip. Astute, funny, and relentlessly intelligent, James amply fulfills his own description of the novelist as a person upon whom nothing is lost.

THE BOSTONIANS

In the heart of traditional Boston female abolitionists are demanding an answer to the woman-question; it is the quality and destiny of the cold, humorless Olive Chancellor to liberate the sex whose intolerable load she bears. But for her provincial cousin Basil, the only use for an amiable woman is to make some honest man happy. Between these two divergent philosophies oscillates the beautiful Verena Tarrant.

THE PORTRAIT OF A LADY is the most stunning achievement of Henry James's early period--in the 1860s and '70s when he was transforming himself from a talented young American into a resident of Europe, a citizen of the world, and one of the greatest novelists of modern times. A kind of delight at the success of this transformation informs every page of this masterpiece. Isabel Archer, a beautiful, intelligent, and headstrong American girl newly endowed with wealth and embarked in Europe on a treacherous journey to self-knowledge, is delineated with a magnificence that is at once casual and tense with force and insight. The characters with whom she is entangled--the good man and the evil one, between whom she wavers, and the mysterious witchlike woman with whom she must do battle--are each rendered with a virtuosity that suggests dazzling imaginative powers. And the scene painting--in England and Italy--provides a continuous visual pleasure while always remaining crucial to the larger drama.

HENRY JAMES (1843-1916)

Henry James once wrote that art, especially literary art, “makes life, makes interest, makes importance.” James’s fiction and criticism is the most highly conscious, sophisticated, and difficult of its era. With twain, James is generally ranked as the greatest American Novelist of the second half of the 19th century.
James is noted for his international theme”—that is, the complex relationships between naïve Americans and cosmopolitan Europeans. What his biographer Leon Edel calls James’s first, or “international,” phase encompassed such works as Transatlantic Sketches (travel pieces, 1875), The American (1887), Daisy Miller (1879), and a masterpiece, The Portrait of a Lady (1881). In The American, for example, Christopher Newman, a naïve but intelligent and idealistic self-made millionaire industrialist, goes to Europe seeking a bride. When her family rejects him he lacks an aristocratic background, he has a chance to revenge himself; in deciding not to, he demonstrate his moral superiority.

James’s second period was experimental. He exploited new subject matters—feminism and social reform in The Bostonian (1886) and political intrigue in The Princess Casamassima (1885). He also attempted to write for the theater, but failed embarrassingly when his play Guy Domville (1895) was booed on the first night.

In his third, or “major,” phase James returned to international subjects, but treated them with increasing sophistication and psychological penetration. The complex and almost mythical The Wing of the Dove (1902), The Ambassadors (1903) (which James felt was his best novel), and The Golden Bowl (1904) date from this major period. If the main theme of Twain’s work is appearance and reality, James’s constant concern is perception. In James, only self-awareness and clear perception of others yields wisdom and self-sacrificing love. As James develops, his novels become more psychological and less concerned with external events. In James’s later works, the most important events are all psychological—usually moments of intense illumination that show characters their previous blindness. For example, in The Ambassadors, the idealistic, aging Lambert Strether uncovers a secret love affair and, in doing so, discovers a new complexity to his inner life. His rigid, upright, morality is humanized and enlarged as he discovers a capacity to accept those who have sinned.

Friday, February 17, 2006

 

RESUMO DO LIVRO: O VELHO E O MAR

Resumo do livro: O Velho e o Mar
Autor: Ernest Hemingway


Depois de passar quase três meses sem fisgar um peixe, escarnecido pelos colegas de profissão, o velho Santiago enfrenta o alto-mar, sozinho, em seu pequeno barco. Quer provar aos outros e a si mesmo que ainda é um bom pescador. É em completa solidão que ele travará uma luta de três dias com um peixe imenso, um animal quase mitológico, que lembra um ancestral literário, a baleia Moby Dick.
À medida que o combate se desenvolve, o leitor vai embarcando no monólogo interior de Santiago, em suas dúvidas, sua angústia, sentindo os músculos retesados, a boca salgada e com gosto de carne crua, as mãos úmidas de sangue. Por fim o peixe se dobra à força do pescador. Mas a vitória não será completa - surgem os tubarões...
Novela da maturidade de Ernest Hemingway, que foi correspondente de guerra e amante das touradas, O Velho e o Mar (1952) é a melhor síntese de sua obra e de sua visão do mundo.
Escrito num estilo ágil e nervoso, máxima depuração da prosa jornalística do autor, o livro explora os limites da capacidade humana diante de uma natureza voraz, onde todos os elementos estão permanentemente em luta, numa autodevoração sem fim.



 
Mark Twain
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Mark Twain
Samuel Langhorne Clemens (Flórida, Missouri, 30 de Novembro de 1835 – Redding, Connecticut, 21 de Abril de 1910), mais conhecido por seu pseudônimo Mark Twain, é um famoso escritor, humorista e romancista estadunidense.
Em seu auge, Clemens foi provavelmente a celebridade mais conhecida de sua época. William Faulkner disse que ele foi "o primeiro escritor verdadeiramente americano, e todos nós desde então somos seus herdeiros". O autor sustentava que o nome "Mark Twain" vinha da época em que trabalhou em barcos a vapor; era o grito que os pilotos fluviais emitiam para marcar (mark) a profundidade das embarcações. Acredita-se que o nome na verdade tenha vindo de seus dias de abandono no oeste, quando ele pedia dois drinks e falava para o atendente do bar "marcar duplo" ("mark twain") em sua conta. A origem verdadeira é desconhecida. Além de Mark Twain, Clemens também usou o pseudônimo "Sieur Louis de Conte".
Juventude

Samuel Langhorne Clemens nasceu na Flórida, Missouri, o terceiro dos quatro filhos sobreviventes de John e Jane Clemens.
Ainda bebê, mudou-se com a família para a cidade ribeira de Hannibal, também no Missouri. Foi deste lugar e de seus habitantes que o autor Mark Twain tiraria a inspiração para seus trabalhos mais conhecidos, especialmente "The Adventures of Tom Sawyer" (1876).
O pai de Clemens morreu em 1847, deixando muitas dívidas. O filho mais velho, Orion, logo começaria um jornal, e Samuel passou a contribuir como jornaleiro e escritor ocasional. Algumas das histórias mais espirituosas e controversas do jornal de Orion vieram do lápis de seu irmão caçula -- normalmente quando o dono estava fora da cidade. Clemens também viajou para Saint Louis e Nova York para ganhar a vida como tipógrafo.
Mas a tentanção do Rio Mississippi eventualmente levaria Clemens à carreira de piloto de barcos a vapor, uma profissão que ele mais tarde afirmaria levar consigo até o fim de seus dias, recontando suas experiências no livro "Life on the Mississsippi" (1883). Mas a Guerra Civil e o advento das estradas deram fim ao tráfego comercial de barcos a vapor em 1861, e Clemens teve de procurar um novo emprego.
Depois de um breve período como membro de uma milícia local (experiência relembrada em 1865 em seu conto "The Private History of a Campaign That Failed"), ele escapou de um contato mais aprofundado com a guerra ao seguir para o oeste em Julho de 1861 com Orion, que acabara de ser nomeado secretário do governador territorial de Nevada. Os dois viajaram por duas semanas atravessando as planícies numa diligência até a cidade mineira de Virginia City.
Esboçando o Oeste
As experiências de Clemens no oeste formaram-no como escritor e seriam a base de seu segundo livro, "Roughing It". Uma vez em Nevada ele tornou-se mineiro, esperando enriquecer na extração de prata no Comstock Lode e permanecendo longos períodos no campo com seus colegas de serviço -- outro modo de vida que ele mais tarde transformaria em literatura. Fracassando como mineiro, ele voltou ao trabalho em jornais com o Territorial Enterprise de Virginia City, onde adotou o nome "Mark Twain" pela primeira vez. Em 1864, mudou-se para São Francisco, Califórnia, colaborando ali com divesos jornais.
Em 1865 Twain experimentou seu primeiro sucesso literário. A pedido do comediante Artemus Ward (que ele conheceu e fez amizade durante sua passagen por Virgínia City em 1863), o escritor enviou um conto de humor para uma coleção que Ward estava publicando. O texto chegou tarde demais para entrar no livro, mas o editor passou-o para o Saturday Press. A história, entitulada originalmente "Jim Smiley and his Jumping Frog" (atualmente mais conhecida como "The Celebrated Jumping Frog of Cavaleras County" ou "A Célebre Rã Saltadora do Condado de Cavaleras") foi re-impressa por todo o país, e considerada por James Russel Lowell, editor do Atlantic Monthly, "a melhor peça de literatura humorística já produzida na América".

Na primavera de 1866 ele foi indicado pelo jornal Sacramento Union para viajar para as Ilhas Sandwich (hoje Hawaii) e escrever uma série de relatos sobre sua jornada. Quando de seu retorno à São Francisco, o sucesso da reportagem e o encorajamento pessoal do Coronel John McComb (que publicava o jornal Alta California) o levaram a se arriscar em seu próprio circuito de leituras, alugando a Academy of Music e cobrando um dólar por pessoa. "Portas abertas às 7 horas", escreveu Twain no pôster de divulgação. "Baderna prevista para as 8".
A primeira apresentação foi um grande sucesso, e sem tardar Twain passou a viajar por todo o estado, lendo seus textos em pequenas casas de entretenimento.
Primeiro livro

Mas seria outra viagem que estabilizaria sua fama como autor. Twain convenceu o Cel. McComb do Alta California a pagar sua passagem a bordo do paquete "Quarter City", que faria um cruzeiro pela Europa e Centro Leste. Os relatos de Twain sobre a viagem para o jornal formariam a base de seu primeiro livro, "Innocents Abroad", um vasto e cômico guia de viagens que recusa-se explicitamente a venerar as artes e convenções do Velho Continente. Vendido por assinatura, o livro tornou-se bastante popular, dando a seu autor um destaque que permaneceria de bom grado pelo resto de sua vida.
Depois do sucesso de "Innocents Abroad" ele casou-se com Olivia Langdon em 1870 e mudou-se para Buffalo, Nova York, e depois para Hartford, Connecticut. O casal teve um menino e três meninas, Langdon, Susy, Clara e Jean. Langdon morreu em 1872, e as outras três nasceram entre 1872 e 1880. Durante esse período, Twain viajava com frequência pelos Estados Unidos e Inglaterra apresentando seus textos.
Síntese da carreira de Twain
O romance "Adventures of Huckleberry Finn" é considerado em geral a mais importante contribuição de Twain para a literatura, como disse Ernest Hemingway:
"Toda a literatura moderna americana adveio de um único livro de Mark Twain chamado "Huckleberry Finn" (...) Não havia nada antes. Não houve nada tão bom desde então".
Twain começou como um escritor de versos leves e bem humorados; terminou como um cronista quase profano das frivolidades, hipocrisias e atos de matança cometidos pela humanidade. "Huckleberry Finn", no meio dessa trajetória, foi uma combinação de humor denso, narrativa trabalhada e críticas sociais praticamente imbatível em toda literatura mundial.
Ele era um mestre em emular o coloquialismo, ajudando a criar e popularizar uma literatura distintivamente americana, baseada nos temas e no idioma de seu país.
Twain era fascinado pela ciência, tecnologia e pesquisas científicas, chegando inclusive a patentear uma invenção sua de ajustar e prender suspensórios. Ele teve uma amizade próxima e duradoura com Nikola Tesla, e os dois reuniam-se de tempos em tempos no laboratório do físico. O livro "A Connecticut Yankee in King Arthur's Court", talvez um pouco inspirada em Tesla, apresentava um viajante do tempo da época de Twain que usa seus conhecimentos científicos para levar tecnologia moderna à era do Rei Arthur na Inglaterra.
Twain foi uma figura importante na Liga Anti-Imperialista Americana, que se opunha à anexação das Filipinas pelos Estados Unidos. Ele escreveu "Incident in the Philippines" ("Incidente em Filipinas", publicado postumamente em 1924) em resposta ao Massacre de Moro Crater, onde seiscentos muçulmanos filipinos foram assassinados por tropas norte-americanas.
Recentemente houve uma tentativa de banir "Huckleberry Finn" de algumas livrarias, supostamente por ofender determinadas pessoas devido ao uso de cores locais por seu autor. Embora Twain fosse contra o racismo e imperialismo, sentimentos avançados para sua época, indivíduos com conhecimento superficial de seu trabalho taxaram-no de racista simplesmente por sua descrição precisa do linguajar vulgar dos Estados Unidos do século XIX. Expressões que eram usadas casual e inconscientemente na época hoje em dia são consideradas racistas. O próprio Twain iria se sentir lisonjeado com tais sentimentos; em 1885, quando uma livraria em Massachusetts baniu o livro, ele escreveu para seu editor: "Eles expeliram Huck de sua livraria como 'lixo adequado apenas aos favelados' que certamente nos fará vender 25,000 cópias a mais".

A maioria das obras de Twain foram suprimidas de tempos em tempos por uma razão ou outra. 1880 viu a publicação de um pequeno volume anônimo entitulado "1601: Conversation, as it was by the Social Fireside, in the Time of the Tudors", que procurava reproduzir diálogos da Inglaterra Elizabetana nos mínimos detalhes, xingamentos e profanidades inclusos. Twain estava entre os supostos autores da peça, mas a polêmica só terminou em 1906 quando ele finalmente assumiu a paternidade literária desta obra-prima da escatologia.
Twain pelo menos pôde ver "1601" publicada enquanto vivo. Ele escrevera um artigo anti-belicisita entitulado "The War Prayer" durante a Guerra Hispano-Americana que foi submetido à publicação, mas em 22 de Março de 1905, a Harper's Bazaar rejeitou-o por "não ser bem apropriado à uma revista feminina". Oito dias depois, Twain escreveu para seu amigo Dan Beard, para quem ele havia relatado a história, dizendo, "Eu não acho que a prece será publicada em minha era. Somente aos mortos é permitido que se diga a verdade". Por ter um contrato exclusivo com a Harper & Brothers, Mark Twain não poderia publicar "The War Prayer" em nenhum outro lugar, e o texto permaneceu inédito até 1923.
Após sua morte, a família de Twain escondeu algumas das suas obras que eram particularmente irreverentes ao tratar de questões religiosas, a mais notável delas sendo "Letter from the Earth", que só foi publicada em 1962. A anti-religiosa "The Mysterious Stranger" sairia somente em 1916.
Talvez o mais controverso de todos foi o discurso cômico de Mark Twain em 1879 no Clube do Estômago em Paris, entitulado "Some Thoughts on the Science of Onanism" ("Algumas Reflexões sobre a Ciência do Onanismo"), que concluía com o pensamento: "Se você deve levar uma vida sexualmente ativa, não brinque tanto com a mão solitária". Este discurso só seria publicado em 1943, e ainda assim apenas em edição limitada a cinquenta cópias.
Outras obras populares de Twain foram "The Adventures of Tom Sawyer", "The Prince and the Pauper" e a não-fictícia "Life on the Mississipi".


A sorte de Twain começou então a entrar em declínio; em seus últimos dias ele tornou-se um homem bastante deprimido, mas ainda assim capaz. Tornou-se célebre sua resposta ao New York Journal após a equivocada divulgação prematura de seu obituário: "Os relatos sobre minha morte foram desmedidamente exagerados", dizia a missiva datada de 2 de Junho de 1897.
Seu único filho homem, que nasceu com problemas de saúde, morreu depois de Clemens levá-lo para passear em um dia de mau tempo sem cobrir o carrinho de bebê. Susie, sua filha predileta, morreu enquanto ele estava na Austrália completando uma série de leituras. Depois de dar a luz a quatro filhos, Olivia Langdon passou o resto da vida adulta doente. No final Clemens perdera três de seus quatro filhos, além de sua querida esposa, antes de morrer em 1910. Ele também passou por maus momentos em seus negócios. Sua editora acabou falindo e ele perdeu centenas de dólares em uma máquina de escrever que nunca foi finalizada, perdendo também a parte que lhe devia nos direitos autorais de alguns de seus livros, que eram pirateados antes mesmo de Clemens ter a chance de publicá-los.

Em 1893 Twain foi apresentado ao industrial Henry H. Rogers, um dos proprietários da Standard Oil. Rogers reorganizou as finanças caóticas do escritor, e os dois tornaram-se amigos íntimos pelo resto de suas vidas. A família de Rogers virou a família emprestada de Twain e ele era convidado frequente na residência de Rogers em Nova York e em sua casa de verão em Fairhaven, Massachusetts, onde os dois eram parceiros de bebedeiras e pôquer. Em 1907 eles viajaram no iate "Kanawha" de Roger até a Jamestown Exposition, organizada no Sewell's Point próximo a Norfolk, Virgínia, em comemoração ao tricentésimo aniversário da fundação da Colônia de Jamestown.
Enquanto Twain creditava abertamente Rogers por salvá-lo da ruína financeira, há também evidências substânciais em suas correspondências de que a amizade próxima dos últimos anos foi benéfica para ambos os lados, aparentemente amenizando o temperamento ruim de Rogers, um industrialista de mão pesada. Em uma dessas ironias da história, Rogers acabou sendo apresentado a Twain pela repórter investigativa Ida Tarbell, que é creditada por expor o lado obscuro da Standard Oil com informações que obteve justamente de encontros com Rogers. Durante os anos de intensa amizade, Rogers, influenciado por Twain, ajudou a financiar a educação de Helen Keller além de fazer contribuições substanciais para o Dr. Booker T. Washington. Após a morte de Rogers, o Dr. Washington revelou que o industrial (uma figura pública bastante odiada) ajudou generosamente a fundar diversas escolas e instituições de ensino secundário em cidades pequenas do sul dos Estados Unidos.

Apesar da saúde instável, Twain retornou em Abril de 1909 à Norfolk, sendo o convidado especial do discurso em comemoração à recém inaugurada Virginian Railway, uma maravilha da engenharia da época. A construção da nova estrada de ferro fora financiada inteiramente por Henry Rogers.
Quando o industrial morreu repentinamente em Nova York menos de dois meses depois, Twain, seguindo no trem de Connecticut para visitá-lo, foi recebido com a notícia na Grand Central Station naquela mesma manhã por sua filha. Sua reação de choque tornaria-se bem conhecida posteriormente. Quando Twain recusou-se a embarcar no trem funerário de Nova York para Fairhaven, onde seria realizado o enterro, ele afirmou que não arriscaria-se a viajar para tão longe entre aqueles que conhecia tão bem, e com os quais deveria por necessidade se misturar nas conversas e animosidades.
O próprio Twain morreria menos de um ano depois. Ele escreveu em 1909, "Eu cheguei com o Cometa Halley em 1835. Ele vai voltar ano que vem, e eu espero que leve-me junto". O cometa pode ser visto nos céus a cada 75-76 anos. Estava visível em 30 de Novembro de 1835, quando Twain nasceu, e também em 21 de Abril de 1910, quando ele morreu (embora as datas exatas do ápice do Halley são 16 de Novembro e 10 de Abril, respectivamente).
Depois de sua morte, uma das figuras proeminentes a lhe pagar tributo foi o presidente dos Estados Unidos na época, William H. Taft. Em suas palavras, "Mark Twain proporcionou divertimento intelectual a milhões, e suas obras continuarão a dar tal satisfação a milhões ainda por vir. Ele nunca escreveu uma linha que um pai não pudesse ler para uma filha". Taft provavelmente ainda não havia conhecido o livreto "1601"
Bibliografia:
• 1867 The Celebrated Jumping Frog of Calaveras County (ficção)
• 1869 Innocents Abroad (relato de viagem, não-fictício)
• 1871 Mark Twain's (Burlesque) Autobiography and First Romance (ficção)
• 1872 Roughing It (não-ficção)
• 1873 The Gilded Age: A Tale of Today (ficção)
• 1875 Sketches New and Old (histórias fictícias)
• 1876 Old Times on the Mississippi (não-ficção)
• 1876 The Adventures of Tom Sawyer (ficção)
• 1877 A True Story and the Recent Carnival of Crime (contos)
• 1878 Punch, Brothers, Punch! and other Sketches (histórias fictícias)
• 1880 A Tramp Abroad (relato de viagem, não-fictício)
• 1880 1601: Conversation, as it was by the Social Fireside, in the Time of the Tudors (ficção)
• 1882 The Prince and the Pauper (ficção)
• 1883 Life on the Mississippi (não-ficção)
• 1884 Adventures of Huckleberry Finn (ficção)
• 1889 A Connecticut Yankee in King Arthur's Court (ficção)
• 1892 The American Claimant (ficção)
• 1892 Merry Tales (histórias fictícias)
• 1893 The £1,000,000 Bank Note and Other New Stories (histórias fictícias)
• 1894 Tom Sawyer Abroad (ficção)
• 1894 Pudd'n'head Wilson (ficção)
• 1896 Tom Sawyer, Detective (ficção)
• 1896 Personal Recollections of Joan of Arc (ficção)
• 1897 How to Tell a Story and other Essays (ensaios não-fictícios)
• 1897 Following the Equator (relato de viagem, não-fictício)
• 1900 The Man That Corrupted Hadleyburg (ficção)
• 1901 Edmund Burke on Croker and Tammany (sátira política)
• 1902 A Double Barrelled Detective Story' (ficção)
• 1904 A Dog's Tale (ficção)
• 1905 King Leopold's Soliloquy (sátira política)
• 1905 The War Prayer (ficção)
• 1906 The $30,000 Bequest and Other Stories (ficção)
• 1906 What Is Man? (ensaio)
• 1907 Christian science (não-ficção)
• 1907 A Horse's Tale (ficção)
• 1907 Is Shakespeare Dead? (não-ficção)
• 1909 Captain Stormfield's Visit to Heaven (ficção)
• 1909 Letters from the Earth (ficção, publicação póstuma)
• 1916 The Mysterious Stranger (ficção, publicação póstuma)
• 1924 Mark Twain's Autobiography (não-fictício, publicação póstuma)
 
Lord Byron


George Gordon Noel Byron nasceu em 22 de janeiro de 1798, em Londres. Apesar de nascer em família rica, seu pai, Capitão John Byron, era um "bon-vivant" que destruiu toda a riqueza. Sua mãe, Catherine Gordon Byron, vinha da família dos Gordons escocês, uma família tradicional e muito conhecida por sua ferocidade e violência. Havia, junto com a esposa, imigrado para a França para fugir das cobranças de credores. Porém, como ela não queria que seu rebento nascesse em solo francês, não hesitou em voltar à ilha da rainha. John ficou e encontrou abrigo na casa de sua irmã. Em 1791, ele encontrou a morte, aparentemente por suicídio, aos 36 anos. Logo após o nascimento de Byron, sua mãe o levou para a Aberdeen, Escócia, onde uma deformidade em seu pé logo ficou evidente. Ganhou botas especiais e passou por inúmeros tratamentos mas logo deixou estas dolorosas experiências para trás. O pequeno George vivia mergulhado em leituras, com atenção especial para a história de Roma. Mas sua infância não se resumia a isto. Ele era marcado pelo amor. Aos sete anos, Byron se apaixonou perdidamente por sua prima, Mary Duff. Aos nove, sua babá o introduziu aos prazeres da carne.
Com 10 anos, Byron herda o título nobiliárquico de um tio-avô, tornando-se o sexto Lord Byron. As finanças minguavam. Tudo o que remetia ao nome dos Byron era motivo de processos por dívidas. O pequeno Byron foi enviado para a academia do doutor Glennie, em Dulwich, e logo em seguida para Harrow. Durante um Natal, ele retornou para Newstead, que havia sido alugada por Lorde Ruthyn, que o iniciou no bissexualismo. Apaixonou-se perdidamente por Mary Ann Chaworth, uma vizinha. Ficou tão obcecado que se recusou a voltar. Ruthyn praticamente o obrigou a retornar.
Em sua adolescência, Byron foi tomando consciência de seu poder. Possuidor de carisma, beleza e poder de sedução, ele logo começou a aproveitar seus dons. Envolveu-se com colegas, empregadas, professores, prostitutas e garotas que adoravam um título de nobreza.
Em 1805, Byron teve um grande choque. Mary Ann casou-se. Logo, ele se torna mais rebelde ainda. Arrumou um emprego em Cambridge mas nunca trabalhava, já que esta era a moda para os descolados da época. Era o tédio, o "spleen". Era a forma que os, então, românticos viviam a vida, e da qual Byron foi o mestre supremo. Escrevia versos e mais versos e gastava muito dinheiro. Após entrar na Trinity College de Cambridge, publica seu primeiro livro de poesia, Hours of Idleness (1807; Horas de ócio), mal recebido pela crítica da prestigiosa Edinburgh Review. Byron respondeu com o poema satírico English Bards and Scotch Reviewers (1809; Bardos ingleses e críticos escoceses).
Em 1811, publica os dois primeiros cantos de Childe Harold's Pilgrimage (Peregrinação de Childe Harold), longo poema em que narra as andanças e amores de um herói desencantado, ao mesmo tempo em que descreve a natureza da península ibérica, Grécia e Albânia. A obra alcançou sucesso imediato e sua fama se consolidou com outros trabalhos, principalmente The Corsair (1814; O Corsário), Lara (1814) e The Siege of Corinth (1816; O Cerco de Corinto). Nesses poemas, de enredos exóticos, Byron confirmou seu talento para a descrição de ambientes.
Em 1815 casa-se com Anne Milbanke. Muda-se para a Suíça em 1816, após o divórcio de Lady Byron, causado pela suspeita de incesto do poeta com a meia-irmã da esposa. Na Suíça escreve o canto III de Childe Harold's Pilgrimage (1816), The Prisoner of Chillon (1816; O prisioneiro de Chillon) e o poema dramático Manfred (1817), enigmático e demoníaco. Em Genebra vive com Claire Clairmont e faz-se amigo de Shelley. Passam horas discutindo filosofias e poesias. Navegavam pelo lago e visitam os cenários da Nova Heloísa, de Rousseau. Chegaram, inclusive, a trocar rosas e carícias... Após visitar o Chateau de Chillon, Byron se inspirou a escrever um de seus mais belos poemas: The Prisoner of Chillon. Numa noite chuvosa em Diodati, o grupo decidiu compor histórias macabras. Nasceu ali Frankenstein de Mary Shelley e O Vampiro, de Polidori.
Compôs então o canto IV de Childe Harold's Pilgrimage (1818) e Beppo, a Venetian Story (1818; Beppo, uma história veneziana), poema em oitava-rima, de tom ligeiro e cáustico, em que ridiculariza a alta sociedade de Veneza. Em 1819 começou o poema herói-cômico Don Juan (1819-1824), sátira brilhante e atrevida, à maneira do século XVIII, que deixaria inacabada. No mesmo ano ligou-se à condessa Teresa Guiccioli, seguindo-a a Ravena onde, juntamente com o irmão dela, participou das conspirações dos carbonários.
Em novembro de 1821, tendo fracassado o movimento revolucionário dos carbonários, Byron partiu para Pisa, onde escreveu o drama The Deformed Transformed (1824; O Deformado Transformado). Em 1822 fundou, com Leigh Hunt, o periódico The Liberal. Foi a seguir para Montenegro e daí para Gênova. Nomeado membro do comitê londrino pela independência da Grécia, embarcou para aquele país em 15 de julho de 1823, a fim de combater ao lado dos gregos, os turcos. Passou quatro meses em Cefalônia e viajou para Missolonghi, onde morreu em 19 de abril de 1824, após contrair uma misteriosa febre.
A obra e a personalidade romântica de Lord Byron tiveram, no início do século XIX, grande projeção no panorama literário europeu e exerceram enorme influência em seus contemporâneos, por representarem o melhor da sensibilidade da época, conferindo-lhe muito de sedução e elegância mundana. Lord Byron teve uma vida pessoal bastante conturbada: na juventude foi acusado de abuso sexual pela prima, homossexualismo e também foi um dos primeiros escritores a descrever os efeitos da maconha. Em meio a toda essa agitação existencial, que se tornou o paradigma do homem romântico que busca a liberdade, Byron escreveu uma obra grandiloqüente e passional. Encantou o mundo inicialmente com seus poemas narrativos folhetinescos, em que não faltam elementos autobiográficos, como Childe Harold's Pilgrimage, e depois o assustou com a faceta satírica e satânica que apresenta em poemas como Don Juan. Foi um dos principais poetas ultra-românticos. O cinismo e o pessimismo de sua obra haveriam de criar, juntamente com sua mirabolante vida, uma legião de jovens poetas "byronianos" por todo o mundo, chegando até o Brasil na obra de grandes escritores, como Álvares de Azevedo.
Uma Taça feita de um Crânio Humano
(Lord Byron)

Não recues! De mim não foi-se o espírito...
Em mim verás - pobre caveira fria -
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.

Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! empina-me!... que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.

Mais vale guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
- Taça - levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto do réptil.

Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender. Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro
...Podeis de vinho o encher!

Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.

E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor ai repousa?
É bom fugindo à podridão do lado
Servir na morte enfim p'ra alguma coisa!... (trad. Castro Alves)
l O Oceano
(Lord Byron)

Rola, Oceano profundo e azul sombrio, rola!
Caminham dez mil frotas sobre ti, em vão;
de ruínas o homem marca a terra, mas se evola
na praia o seu domínio. Na úmida extensão
só tu causas naufrágios; não, da destruição
feita pelo homem sombra alguma se mantém,
exceto se, gota de chuva, ele também
se afunda a borbulhar com seu gemido,
sem féretro, sem túmulo, desconhecido.

Do passo do há traços em teus caminhos,
nem são presa teus campos. Ergues-te e o sacodes
de ti; desprezas os poderes tão mesquinhos
que usa para assolar a terra, já que podes
de teu seio atirá-lo aos céus; assim o lanças
tremendo uivando em teus borrifos escarninhos
rumo a seus deuses - nos quais firma as esperanças
de achar um portou angra próxima, talvez -
e o devolves á terra: - jaza aí, de vez.

Os armamentos que fulminam as muralhas
das cidades de pedra - e tremem as nações
ante eles, como os reis em suas capitais - ,
os leviatãs de roble, cujas proporções
levam o seu criador de barro a se apontar
como Senhor do Oceano e árbitro das batalhas,
fundem-se todos nessas ondas tão fatais
para a orgulhosa Armada ou para Trafalgar.

Tuas bordas são reinos, mas o tempo os traga:
Grécia, Roma, Catargo, Assíria, onde é que estão?
Quando outrora eram livres tu as devastavas,
e tiranos copiaram-te, a partir de então;
manda o estrangeiro em praias rudes ou escravas;
reinos secaram-se em desertos, nesse espaço,
mas tu não mudas, salvo no florear da vaga;
em tua fronte azul o tempo não põe traço;
como és agora, viu-te a aurora da criação.

Tu, espelho glorioso, onde no temporal
reflete sua imagem Deus onipotente;
calmo ou convulso, quando há brisa ou vendaval,
quer a gelar o pólo, quer em cima ardente
a ondear sombrio, - tu és sublime e sem final,
cópia da eternidade, trono do Invisível;
os monstros dos abismos nascem do teu lodo;
insondável, sozinho avanças, és terrível.

Amei-te, Oceano! Em meus folguedos juvenis
ir levado em teu peito, como tua espuma,
era um prazer; desde meus tempos infantis
divertir-me com as ondas dava-me alegria;
quando, porém, ao refrescar-se o mar, alguma
de tuas vagas de causar pavor se erguia,
sendo eu teu filho esse pavor me seduzia
e era agradável: nessas ondas eu confiava
e, como agora, a tua juba eu alisava. (trad. Castro Alves)

Trevas
(Lord Byron)(trad. Castro Alves)

Eu tive um sonho que não era em todo um sonho
O sol esplêndido extinguira-se, e as estrelas
Vagueavam escuras pelo espaço eterno,
Sem raios nem roteiro, e a enregelada terra
Girava cega e negrejante no ar sem lua;
Veio e foi-se a manhã - Veio e não trouxe o dia;
E os homens esqueceram as paixões, no horror
Dessa desolação; e os corações esfriaram
Numa prece egoísta que implorava luz:
E eles viviam ao redor do fogo; e os tronos,
Os palácios dos reis coroados, as cabanas,
As moradas, enfim, do gênero que fosse,
Em chamas davam luz; As cidades consumiam-se
E os homens juntavam-se junto às casas ígneas
Para ainda uma vez olhar o rosto um do outro;
Felizes enquanto residiam bem à vista
Dos vulcões e de sua tocha montanhosa;
Expectativa apavorada era a do mundo;
Queimavam-se as florestas - mas de hora em hora
Tombavam, desfaziam-se - e, estralando, os troncos
Findavam num estrondo - e tudo era negror.
À luz desesperante a fronte dos humanos
Tinha um aspecto não terreno, se espasmódicos
Neles batiam os clarões; alguns, por terra,
Escondiam chorando os olhos; apoiavam
Outros o queixo às mãos fechadas, e sorriam;
Muitos corriam para cá e para lá,
Alimentando a pira, e a vista levantavam
Com doida inquietação para o trevoso céu,
A mortalha de um mundo extinto; e então de novo
Com maldições olhavam para a poeira, e uivavam,
Rangendo os dentes; e aves bravas davam gritos
E cheias de terror voejavam junto ao solo,
Batendo asas inúteis; as mais rudes feras
Chagavam mansas e a tremer; rojavam víboras,
E entrelaçavam-se por entre a multidão,
Silvando, mas sem presas - e eram devoradas.
E fartava-se a Guerra que cessara um tempo,
E qualquer refeição comprava-se com sangue;
E cada um sentava-se isolado e torvo,
Empanturrando-se no escuro; o amor findara;
A terra era uma idéia só - e era a de morte
Imediata e inglória; e se cevava o mal
Da fome em todas as entranhas; e morriam
Os homens, insepultos sua carne e ossos;
Os magros pelos magros eram devorados,
Os cães salteavam seus donos, exceto um,
Que se mantinha fiel a um corpo, e conservava
Em guarda as bestas e aves e famintos homens,
Até a fome os levar, ou os que caíam mortos
Atraírem seus dentes; ele não comia,
Mas com um gemido comovente e longo, e um grito
Rápido e desolado, e relambendo a mão
Que já não o agradava em paga - ele morreu.
Finou-se a multidão de fome, aos poucos; dois,
Dois inimigos que vieram a encontrar-se
Junto às brasas agonizantes de um altar
Onde se haviam empilhado coisas santas
Para um uso profano; eles a resolveram
E trêmulos rasparam, com as mãos esqueléticas,
As débeis cinzas, e com um débil assoprar
E para viver um nada, ergueram uma chama
Que não passava de arremedo; então alçaram
Os olhos quando ela se fez mais viva, e espiaram
O rosto um do outro - ao ver gritaram e morreram
- Morreram de sua própria e mútua hediondez,
- Sem um reconhecer o outro em cuja fronte
Grafara o nome "Diabo". O mundo se esvaziara,
O populoso e forte era uma informe massa,
Sem estações nem árvore, erva, homem, vida,
Massa informe de morte - um caos de argila dura.
Pararam lagos, rios, oceanos: nada
Mexia em suas profundezas silenciosas;
Sem marujos, no mar as naus apodreciam,
Caindo os mastros aos pedaços; e, ao caírem,
Dormiam nos abismos sem fazer mareta,
mortas as ondas, e as marés na sepultura,
Que já findara sua lua senhoril.
Os ventos feneceram no ar inerte, e as nuvens
Tiveram fim; a escuridão não precisava
De seu auxílio - as trevas eram o Universo. (t((tara


(Tradução de C(astro Alves)

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